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Este microbook é uma resenha crítica da obra: Projeto Nacional - O dever da esperança
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN: 978-65-5643-003-4
Editora: Leya
As estatísticas brasileiras são, no século XX, incomparáveis. Apesar de existir um grande pessimismo na atualidade, o fato é que nosso país mais que centuplicou o seu Produto Interno Bruto (PIB).
Do mesmo modo, não há paralelos no mundo. Em resumo, o crescimento do PIB per capita atingiu a média de 2,5% anuais. Ainda que, no ano 2.000, os cidadãos brasileiros produziam, em média, 12 vezes mais riqueza do que em 1900, somete a Coreia do Sul, a Noruega, a Finlândia, o Japão e Taiwan puderam superar esse feito.
Ou seja, tal façanha não ocorreu ao longo de todo o século XX. Então, nos 30 primeiros anos do século passado, o nosso país ainda era majoritariamente agrário. Dessa maneira, suas estruturas escravocratas estavam praticamente intocadas, baseando-se, sobretudo na monocultura da cana-de-açúcar e do café.
De conformidade com a linha política adotada por Epitácio Pessoa, no final dos anos de 1920, o governo importou enxadas e facões, tal era a nossa indigência industrial. Conquanto o grande salto nacional ocorreria entre 1933 e 1980, tivemos 47 anos de um dos maiores crescimentos mundiais, multiplicando o PIB per capita por 8!
Sob o mesmo ponto de vista, a industrialização de um país não é uma fase natural de desenvolvimento, como alguma espécie de lei da evolução histórica. Por isso, a industrialização deve ser induzida, planejada, demandando intensa defesa de todos os interesses nacionais contra sabotagens e ações desestabilizadoras perpetradas por concorrentes estrangeiros.
Em outras palavras, o autor não se refere a uma teoria da conspiração, mas das mais ordinárias e banais guerras comerciais. Logo após ser eficientemente produzido aqui, um determinado produto deixará de ser importado. Simples assim.
Com o fim de participar dessa corrida por mercados, poucas nações poderiam disputar, em toda a história do mundo, a magnitude e a rapidez do que foi realizado em nosso país.
Enquanto poderíamos perfeitamente seguir como uma nação puramente agrícola, tal como a extratora Venezuela ou a Bolívia, em certos momentos de nossa história, houve uma vanguarda política que, audaciosamente, decidiu industrializar o país.
Uma vez que esses planos foram sendo colocados em prática, construiu-se, concomitantemente, um projeto hegemônico intelectual e moral apto a transformar a realidade de nossa pátria.
Nas últimas 4 décadas, experimentamos apenas 3 períodos de relativo crescimento: alguns momentos no governo de José Sarney, de Itamar Franco (somando o primeiro ano de Fernando Henrique Cardoso) e no governo de Lula (que, no entanto, ocorreu em desindustrialização contínua).
De maneira idêntica, nos 3 casos, o crescimento não foi sustentado por repetidos ciclos de consumo que correspondessem a alguma iniciativa consistente de alterar a nossa matriz produtiva.
Em conclusão, o consumo sempre tem crescido, segundo o autor, semelhante aos “voos de galinhas”, seguidos por quedas devidas à selvagem e contínua desindustrialização. Gomes sustenta que isso ocorre devido a 3 razões centrais:
Por menos que sobrevivemos, a duras penas, a 30 anos com os mais altos juros do mundo, esse custo já não tem como ser repassado aos preços oligopolizados, em decorrência da abertura econômica.
Em virtude desse fator, a maior parte das 300 maiores empresas nacionais não consegue, hoje em dia, fazer caixa suficiente para pagar parcelas vencidas de dívidas contraídas junto aos bancos. Sem dúvida, é impossível continuar por mais tempo nessa direção sem, para tanto, corrermos o risco de acabar em uma grave crise bancária.
O desenfreado rentismo comprometeu mais de 6% do PIB nacional, em 2017, com o pagamento dos juros líquidos da área pública. Se bem que a quantia paga em juros foi, de fato, incrível: superior a R$ 400 bilhões, apenas a União despendeu R$ 341 bilhões desse total.
Igualmente, uma vez que a arrecadação federal girou em torno de R$ 1.300 trilhão em 2017, isso equivale a cerca de 25% do montante arrecadado e gasto em juros. Pelo contrário, é fundamental ter em mente que não conseguimos retirar um centavo sequer de nossa arrecadação, a fim de pagá-los.
Mas, há um tamanho descontrole que todas as nossas contas de juros estão sendo cobertas por novas emissões dos títulos públicos. Nesse ínterim, temos dívida sobre dívida!
Com o intuito de seguir os mesmos métodos de cálculo, gastamos, em 2015, mais de 8% do PIB com juros. Em seguida, se considerarmos a brutal queda de arrecadação, fica mais fácil entender o início do colapso das finanças públicas ao longo do segundo mandato de Dilma.
Outrossim, esse cenário abriu caminho para que corruptos, tais como Eduardo Cunha, fossem energizados pela entrega inacreditável da estatal Furnas, de modo que pudessem executar suas sabotagens políticas.
A prostração a que nos submetemos perante a ideologia neoliberal fez com que setores econômicos inteiros passassem do Estado para as mãos do Mercado. Isso foi possível graças à intensa campanha de propaganda que visa desmoralizar as empresas públicas, em função de sua “corrupção” e “ineficiência”.
Nessa narrativa, o investimento privado seria o único capaz de propiciar “honestidade” e “eficiência”, suprindo os motores sociais de desenvolvimento. Embora, no mundo ocidental, com especial destaque para a América Latina, tal movimento seguiu em sentido contrário ao das nações asiáticas, que mantiveram uma associação harmoniosa entre Estado e mercado.
Pois, esses países se tornaram uns dos mais dinâmicos, do ponto de vista do capitalismo contemporâneo, convertendo-se em verdadeiras locomotivas econômicas globais.
Só para exemplificar, grandes partes de nosso Estado foi desmontado em prol do objetivo declarado de equilibrar as contas públicas. Inegavelmente, enquanto essa linha foi adotada, o país era saqueado por meio dos mais altos juros reais de todo o mundo.
No atual contexto, em que as desigualdades atingem níveis crescentes e alarmantes, o neoliberalismo perde credibilidade e deixa um rastro de destruição atrás de si. Similarmente, a esquerda sofre derrotas seguidas na maioria das democracias ocidentais, assistindo, com perplexidade, a ascensão da direita mais extrema.
Ao mesmo tempo, isso representar um claro indício dos graves erros cometidos pela chamada “esquerda tradicional”. Isto é, há uma necessidade, cada vez mais urgente, de refletirmos sobre os erros e alterar os rumos de nossas intervenções políticas. Eventualmente, não podemos mais permitir que as corporações ou os governos possuam sistemas absolutos de vigilância sobre as nossas vidas.
É imprescindível criar e colocar em prática legislações, bem como órgãos voltados à fiscalização adequadamente empoderados e equipados. Logo depois, tais órgãos devem impedir que os algoritmos do big data concentrem a informação e o controle em um único centro, utilizando esses dados e informações para manipular o nosso povo.
Tamanha concentração poderá extinguir, de uma vez por todas, os 2 valores políticos mais relevantes do mundo ocidental: a igualdade e a liberdade. Esta, por controlarem todos os dados sobre nós. Quanto à igualdade, por concentrarem toda a riqueza e o poder humanos em uma elite mínima, com acesso a tecnologias inimagináveis.
Para que o restante da humanidade sobreviva com rendas mínimas, a distribuição de poder e riqueza tem seguido essa lógica até o presente momento. Ainda assim, é possível evitar esse destino a partir de uma regulamentação adequada desses dados, visando criar uma autêntica democracia digital.
Desde que o sistema democrático crie mecanismos para regular esses dados, sua utilização impedirá que os proprietários dos dados sobre os seus interesses o seu DNA e a sua vida sejam outras pessoas além de você mesmo. Posto que podemos garantir que a tecnologia trabalhe a nosso favor, o controle sobre nossas vidas deve ficar em nossas próprias mãos.
Ademais, a tecnologia da informação e a biotecnologia devem estar a serviço tanto da saúde quanto da educação. Essa, talvez, seja a mais importante questão política de nosso tempo. Logo, a esquerda não deve ficar de fora ou demorar para agir.
Cumpre ressaltar, por fim, que o neoliberalismo destruiu o nosso país por 3 vezes, com Dilma-Temer, FHC e Collor. Para o autor, isso não foi coincidência. Na atualidade, presenciamos a face mais cruel dessa linha política, por meio da atuação do ministro Paulo Guedes.
Segundo Ciro Gomes, tampouco é mera coincidência que essa máquina destrutiva conseguiu hegemonizar os discursos midiáticos e políticos, acorrentando o Brasil à beira de um precipício.
No entanto, seu chamado de esperança deve ser atendido por todos os que desejam abandonar o autodesprezo e “libertar o gigante”. Devemos, então, entrar em ação para impedir que o governo federal continue destruindo o Brasil para servir aos interesses estrangeiros, encontrando um caminho original de desenvolvimento soberano.
Gostou do microbook? Então, leia também “Por que as nações fracassam” e entenda as origens da pobreza, da prosperidade e do poder dos países!
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Ciro Gomes é o vice-presidente do PDT, professor universitário, advogado e jornalista. Além disso, concorreu por 3 vezes à Presidência da República e ocupo... (Leia mais)
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